domingo, 21 de setembro de 2008

coisas de roz

oi cumpadi,
já ouviu as estórias de mané caeteiro?
Já ouviu falar de sao joao sanfoneiro?
entao vamos ver...

2 comentários:

caetano trindade disse...

Lá na Brejaúba conheci um candieiro que me contou a sua história (acho que deveria escrever estória, porque afinal, candieiro não merece ter uma História). O nome dele completo vocês saberão no final do livro, mas ele é conhecido como Tim.
Tim é um menino franzino que já aos cinco anos busca cavalo no pasto e prende bezerro. De cavalo ele entende muito, apesar da pouca idade. Alguns dizem que tamanho não é documento, todavia para Tim, tamanho poderia ter evitado uma fratura no braço. Montado no cavalo em pêlo, ao abrir a porteira, faltou-lhe perna para se equilibrar no lombo do “alazão”, o resultado foi um braço quebrado. Para a sua compensação ficou sem trabalhar mais de 30 dias com o braço enfaixado, além disto, “ganhou” uma viagem para Barbacena, porque em Cipotânea não engessava e nem engessa braço quebrado. Ficou feliz ao ir na Santa Casa lá em Barbacena, andou de ônibus e até viu um trem de ferro apitando, soltando fumaça esquentando o frio gelado da Serra da Mantiqueira.
Estas férias forçadas foram boas, mas terminou, e a rotina voltou tudo de novo: dos cinco aos sete anos menino não vai a escola, pode ajudar em casa, como descascar e debulhar milho, tratar de porco, prender bezerro e é claro já iniciar na profissão dos próximos duros anos: candiar boi. Tim gostava de estar perto de bois. Ajudava os seus irmãos a amansar os bezerros. Boi não nasce sabendo puxar carro, é preciso ser treinado. E quanto mais cedo começar, melhor. Assim como um candieiro. Os bezerros ganham logo um nome. Eles não têm certidão de nascimento, mas todo mundo conhece os bois pelo nome. A primeira junta de boi que Tim ajudou a amansar se chamava Bordado e Ramim. Ramim era um boi espantado que ao ver o candieiro ir buscá-lo no pasto, saía correndo como um relâmpago pelo pasto afora, até pulava a cerca e se escondia no matagal de alecrim e achapêche. Não tinha moleza, o candieiro tinha que tocar os bois até o curral para o carreiro (homem adulto de mais de 12 anos de idade que é responsável pelo carro de boi).
A carga mais comum transportada naquela época era o milho. O transporte da roça para o paiol. Muitas vezes a viagem durava mais de 3 horas. Em um dia se fazia umas três viagens, ou seja, o candieiro tinha que andar mais de 20 km por dia guiando os bois. Ao contrário, o carreiro passava a maior parte do tempo montado no cabeçalho do carro. No entanto, toda a responsabilidade era do carreiro que tinha além de guiar os bois de coice e tocar os bois de guia, cuidar para que o candieiro fosse constantemente xingado. Além de estar atento para o carro não queimar o eixo onde o chumarro encosta na cheda, não deixar que a roda não coma o fueiro e ter cuidado para o carro não tombar em meios a cupins, pedras e tocos de pau.
Na longa viagem na frente dos bois, o Tim ocupava seu tempo olhando de vez em quando para trás para verificar se estava tudo em ordem e tomar a distância suficiente para que o Mimoso (boi de guia) não chifrasse sua bundinha
Ex-Candinheiro | 08.12.07 - 2:08 pm | #
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Um candieiro: seus sonhos e desafios

Já no início deste curto capítulo, vou logo definindo o que é um candieiro. Se você tiver acesso à internet e um pouco de curiosidade verá que nada se encontra quando se digita a palavra candieiro em uma das várias ferramentas de busca virtual. É isto, eu acho que candieiro não significa mesmo muita coisa, e até acho que isto é coisa para criança de 5 a 12 anos. Para os moradores de Cipotânea e cidades vizinhas, candieiro é um menino (em raras exceções meninas) que anda na frente dos bois na canga para guiá-los. Portanto, diria que candieiro é uma profissão para crianças. Sendo assim, homem grande que candeia boi é homem preguiçoso ou homem que nunca teve promoção na carreira.
As pessoas que moram na cidade (como por exemplo Cipotânea) não tinham muita idéia do que era um candieiro. A partir da primeira festa do milho em Cipotânea, a carreira infantil desconhecida tornou-se motivo para festejar. O candieiro ganhou destaque, lá estava ele na frente dos bois pelas ruas afora durante o desfile de carros de boi. Lá estão os meninos de pernas curtas com chapeuzinho na cabeça e quichute nos pés. Ao mesmo tempo, os candieiros continuam injustiçados, porque quem brilha e até ganham prêmios são as rainhas do milho. Meninas de rostos bonitos e lindos vestidos, enfeitados com ornamentos da planta do milho.
Para falar a verdade, a profissão do candieiro ainda é completamente desconhecida, até mesmo pelos organizadores da famosa festa do milho. E até hoje, até onde sei, nada há de escrito sobre esta profissão de crianças. Tentarei neste capítulo ser o mais fiel possível com a realidade desta profissão, usando palavras que não se encontra no Aurélio, muito menos em outra língua estrangeira. Tentei explicar para um colega alemão o que é um candieiro, fiz um esforço tremendo para que ele pudesse ativar sua fantasia e entender esta profissão. Depois de conversarmos mais de meia hora ele concluiu dizendo: “Candieiro é uma profissão para iniciantes. É o menor cargo que se pode assumir lá em Cipotânea, não é verdade?”. É isto, talvez ele tenha me entendido. Mas para minha surpresa, minutos depois ele me perguntou: “Trabalho infantil no Brasil é legal?”. Novamente, ele tinha razão. Trabalho infantil é ilegal, também no Brasil.
Não estou aqui para defender direitos humanos, para isto existe até profissionais formados. Mas eles, estão sempre ocupados lá na cidade grande cuidando dos problemas grandes. Os candieiros, são desconhecidos, não merecem a atenção nem da professora do pré-primário, muito menos do pessoal dos direitos humanos.
Hoje em dia tem até trator em Cipotânea, mas o principal meio de transporte de carga é ainda o carro de boi. Sobre o carro de boi também não existem muitos escritos, mas é uma coisa antiga trazida pelos nossos colonizadores, os portugueses. Lá na Brejaúba conheci um candieiro que me contou a sua história (acho que deveria escrever estória, porque afinal, candieiro não merece ter uma História).
Texto escrito por Vicente Braz da Trindade Filho.

caetano trindade disse...

Meu tempo de infancia

Aos 7 anos de idade eu entrei na escola: foi assim: A professora era quase nossa vizinha, um dia ela foi passear em nossa casa e eu disse para ela que queria ir à escola.
Ela respondeu que podia e falou o dia que eu podia ir. E, eu, sem nunca ter visto uma sala de aula, fui com outras criancas vizinhas maiores. Era uma unica professora para dar aula para primeira, segunda e terceira series juntas.

Chegei na escola levando um livro velho emprestado, a professora comecou me ensinando ler as letras do alfabeto. As aulas comecavam as 10 horas da manha e terminava as 2 horas da tarde. Dentro deste horário talvez a gente tomava água, isto è, quando o aluno nao era muito timidoi e tinha coragem de pedir a professora para ir lá no brejo tomar água.

Ao término da aula, deste primeiro dia, eu já conhecia todas as letras, e ai fui, com um mes eu já sabia ler, escrever e contar.
No final do ano fui promovida p ara o segundo ano com a nota “10” que era a maior da epoca.
Em todos os finais de ano a professora fazia festa para os alunos, sendo assim o exame final, ou melhor, a avaliacao final da aprendizagem.
Aconteceu, que neste dia eu amanheci doente, com febre, a minha irma me levou a escola carregada nos bracos, eu li a licao diante de alguns homens, a mando da prefeitura de Alto Rio Doce, pois, nesta época, Cipotanea pertencia a prefeitura de Alto Rio Doce.

Fiz continhas no quadro, recitei poesias, apesar de estar tremendo de febre, mas, eu gostei, porque foi ai que eu fui calcada com umas sandalinhas, porque estava doente.

Entre todas as alunas eu era a menor, ao termino do recreio, todos os dias, a professora mandava que fizessemos duas filas, uma dos meninos e outra das meninas, para cantarmos o Hino Nacional. Comecava a fila com os alunos menores na frente, eu era sempre a primeira da fila.

Durante o recreio todos os dias, a gente brincava muito, porque naquele tempo nao havia merenda nas escolas, a nao ser que cada um levasse a sua, mas isto nao acontecia com todos.

Tinhamos uma brincadeira que era chamada de: (Margarida) comecava assim: as meninas maiores me colocava no centro, ( eu era a Margarida) e todas se colocavam em minha volta, de modo que ninguem me via, as meninas eras as pedras do muro que nao deixava ninguem ver a: (Margarida).
Ficava uma menina andando em volta e cantava assim:
(Quero ver a Margarida, olê, olê, olá, quero ver a Margarida, olê seus cavalheiros).
As meninas que estavam me protegendo respondia assim:
(Mas o muro è muito alto, olê, olê, olá, mas o muro è muito alto, olê seus cavalheiros).
A menina que estava de fora tirava uma das meninas que estava protegendo a (Margarida) e cantava:
(Tirei uma pedra, olê, olê, olá, tirei uma pedra olê seus cavalheiros).
As outras respondiam:
cuma pedra só na abate, olê, olê, olá, uma pedra só nao abate, olê seus cavalheiros.)
E assim iam tirando duas, tres, até que a ( Margarida) aparecesse e cantavam juntas:
(Margarida apareceu, olê, olê, olá, Margarida apareceu olê seus cavalheiros.)
E todas juntas me levantavam para que eu batesse palmas no ar, e cantavam juntas:
( vamos fazer a festa dela, olê, olê, olá, vamos fazer a festa dela olê seus cavalheiros.)

Tinhamos também uma outra brincadeira que era assim: uma menina maior ficava sentada com todas as meninas juntas, esta era a rica. Outra menina também maior ficava sentada sozinha, era pobre. A pobre cantava assim:
(Sou pobre, pobre sou, vou me embora, vou me embora; Soui pobre, pobre sou, vou me embora daqui.)
A rica cantava assim :
(Sou rica, rica sou, vou me embora, vou me embora; sou rica, rica sou, vou me embora daqui.)
A pobre pedia:
(Me dá uma menina, vou me embora, vou me embora; Me dá uma menina, vou me embora daqui.)
A rica perguntava, qual a menina que ela queria e qual o oficio que daria a menina. A pobre respondia: dizendo o nome de uma menina e dava qualquer um tipo de oficio. A rica respondia se gostava oui nao do oficio. E assim as meninas iam passando para o outro lado, até que a pobre ficasse rica e a rica ficasse pobre.

Ainda tinha vários outros tipos de brincadeira como:
(Brincar de roda)
(Pular corda)
(Brincar de esconder, etc.)

Esta unica professora além de ensinar muitos alunos, sozinha, ensinava também as meninas algumas atividades como: bordar, fazer sapatinhos, palitozinhos, bainhas, etc.

Ela gostava muito de mim, porque eu era muito inteligente e também muito obediente. Fiquei na escola até os 10 anos de idade, completei o terceiro ano que era o suficiente da epoca. Depois fiquei mais um ano, só ajudando a professora a ensinar aqueles alunos menos inteligentes, sem ganhar nada e depois sai mesmo da escola, naquele tempo nao existia meios para qualquer pessoa levar os estudos em frente e aí eu fiquei.
Aos 10 anos de idade fiz a primeira comunhao, foi um dia comum, como qualquer outro, me lembro bem, fui descalco porque nao tinha calcados.

Aos 14 anos de idade ganhei a primeira afilhada, fiquei muito alegre, porque era pessoa de fora e ai eu ia arranjar compadre e comadre. Aconteceu que na vespera do batizado, eu tive febre, passei mal a noite toda, tomando chá que minha mae fazia. De manha, antes de eu me acordar, meu pai foi dispensar a afilhada, dizer que eu nao podia ir, quando me acordei e fiquei sabendo, fiquei triste e chorei muito. Mas o pai da menina fez questao de mandar um animall arreada e uma boa companhia, para que eu fosse, estava um dia frio, um pouco chuvoso, pois era final do mes de outubro. Eu nao tinha uma calca comprida e nem uma blusa de manga comprida para me agasalhar, mas fui assim mesmo, feliz da vida.

TEMPO DA ADOLESCENCIA

Quem sou eu